alo amigos de todo o brasil,
estamos colhendo assinaturas – veja o endereço: www.oinformativo.com/porteiro – pela manutenção da escultura “porteiro do inferno”, de jackson ribeiro (artista contemporaneo de helio oiticica, lygia clark e lygia pape) em sua nova localização, o girador de acesso à UFPB, em joão pessoa. o motivo é que um grupo de fanáticos religiosos quer removê-la deste lugar se remetendo apenas ao título da obra. o grupo, embora pequeno, vem fazendo estardalhaço junto às autoridades religiosas e políticas de nossa cidade. então, artistas, intelectuais, estudantes, professores e pessoas da cidade resolveram responder a esta “ignorância” com uma ação que incluirá um “abraço silencioso” ao “porteiro”, no dia 31/05, às 19h (junto com o circulo de tambores) e um abaixo-assinado que será apresentado ao prefeito da cidade nesta ocasião. também, estamos amplamente divulgando na imprensa local material sobre jackson ribeiro e a história desta obra (colocada em praça pública pela primeira vez em 03/05/1967).
agradeço imensamente o apoio ao abaixo-assinado e sua divulgação.
Dyogenes Chaves novo endereço: av argemiro figueiredo 4385/ 103 joao pessoa-pb brasil 58036-030 novo celular: (83) 8874.7877 novo fixo: (83) 3042.7979
FOTO ILUSTRATIVA: Pedro Daniel
Carta ao Porteiro do Inferno
13/05/2007
Meu querido e sofrido Porteiro. Tenho acompanhado tua trajetória de vida, desde teu nascimento. Conheci Jackson Ribeiro, esse artista que te concebeu, te deu forma e vida. Foste construído sob encomenda, porque Jackson tinha uma dívida com o governo do Estado. A princípio sem nome, foste instalado num canteiro florido próximo ao Lyceu Paraibano, em 1972, quando a cidade se encontrava sob a ditadura militar. Fui até lá para te ver. Como estavas tão garboso, tão elegante. Muito expressivo, teu corpo de ferro retorcido parecia querer falar. Tua ferragem combinava com flores e folhas dos ipês da avenida. Essa estranha aparência fez com que o escritor Virginius da Gama, num de seus arroubos poéticos, te chamasse de Porteiro do Inferno, inspirado em Cérbero da mitologia grega. Isso gerou controvérsias, polêmicas e discussões. Cada pessoa emitia um parecer. Dizia-se até que, oficialmente, te chamavas Astronauta. Mas o fato é que o insólito nome Porteiro do Inferno pegou, logo foi aceito nas rodas poéticas, acadêmicas e sociais. Mais fortes são os poderes do povodaí que o nome se popularizou e acabou se oficializando.. Meu querido Porteiro, tem sido longa tua peregrinação pela cidade. O obscurantismo, a intolerância, o preconceito de grupos minoritários têm se mobilizado contra tua existência e contra teu nome, num explícito desrespeito à memória do artista que te concebeu. Religiosidade é confundida com cegueira e fanatismo nesta cidade. Tamanha confusão tem tentado jogar lama na tua figura e em tudo que representas. Assim, ameaçam apedrejar a liberdade de expressão. Em dados momentos, a estupidez chegou mesmo a vencer a sabedoria. Num desses momentos de obscuridade, foste retirado do jardim florido onde estavas há trinta anos e banido para algum lugar escondido, onde a cidade não mais pudesse te ver. Ah, meu querido Porteiro. Pude observar a situação de sucata a que foste relegado, indefeso, naquele Espaço Cultural decadente, corroído pelo abandono. Vi o quanto foste vítima do desprezo e do preconceito de grupos e instituições políticas atrasadas, mentes retrógradas. Quando se pensou em te colocar no girador da Beira-Rio, nova onda de reacionarismo te atingiu. Mas, o mundo dá muitas voltas. Nesses novos tempos, a cidade respira ares de liberdade.. E assim, meu querido Porteiro, voltaste a lume. Novamente aureolado de luzes, gramas e flores, em frente à UFPB, lá estás, com toda a tua dignidade, pujança e galhardia, tal como um dia Jackson Ribeiro sonhou. Muito me comovi quando te vi assim, cercado de carinho e respeito. Pensei: Agora sim, Porteiro. Encontraste teu lugar definitivo, tua quietude. Mas, poucos dias se passaram e novamente tua paz está sendo ameaçada. Já se escutam cochichos e rumores, comentários velados e desvelados de pessoas pertencentes a grupos reacionários e resmungões. Afastem o Porteiro do Inferno! Afastem o Porteiro do Inferno! Tirem-no daqui, levem-no para longe!, é assim que eles sussurram. Uma onda de histerismo percorre ruas, becos e sacristias, passam sorrateiramente por altares sagrados, passam por abaixo assinados, murmurando impropérios contra uma obra de arte, contra a memória de um artista. Que insanidade, meu querido Porteiro, quanta mediocridade. No entanto, isso não vai passar em brancas nuvens. Há pessoas esclarecidas, sensíveis e conscientes que se comovem e querem tua permanência alí, onde estás. É preciso impedir que mais uma injustiça seja perpetrada contra ti. A cidade quer te abraçar, Porteiro, quer formar uma grande ciranda em volta de ti, pela paz, pela vida, pela liberdade de expressão. Em defesa da arte e dos artistas. Peço-te que nos aguardes, pois logo, logo chegaremos junto de ti para um abraço fraterno, em desagravo.
Dôra Limeira
Escritora