A Fundação Bienal de São Paulo apresentou o cartaz da 29ª edição, mostra que acontecerá entre Setembro e Dezembro deste ano. A peça incorpora a nova identidade visual desenvolvida pela recém criada área de design, que traduz graficamente o título escolhido para a exposição deste ano: Há sempre um copo de mar para um homem navegar, verso emprestado da obra maior do poeta Jorge de Lima, Invenção de Orfeu (1952).
O desenvolvimento da identidade percorreu diversos caminhos: imagens de privadas, panelas, pias e outros continentes cotidianos para a água, planos de cor, copos gráficos, silhuetas de objetos de consumo, marcas azuis de revisão de textos, imagens do sistema circulatório humano, códigos internacionais de navegação marítima, rosas-dos-ventos desconstruídas e até mesmo a dissolução total da identidade, expressa na adoção de superfícies brancas emolduradas, prontas para receberem sua identidade pelas mãos do público, que seria estimulado a preenchê-las com seus próprios desenhos.
Após percorrer diversos caminhos criativos, a equipe de design lembrou-se de um objeto ao mesmo tempo óbvio e esquecido, uma metáfora singela talhada para esta Bienal, que apontou para um rumo completamente diferente dos que haviam investigados até então: uma bússola caseira, improvisada num copo de plástico com uma rolha atravessada por uma agulha imantada.
A bússola caseira, presente na memória de muita gente, é uma imagem familiar, que produz reações tão afetivas quanto intelectuais. É forte em termos conceituais, reforçando a afirmação de que a dimensão utópica da arte está contida nela mesma e não no que está fora ou além dela. É forte em termos gráficos: dois círculos um grande e definido, outro menor e cruzado por uma linha, formam um claro enigma visual.
Esse copinho de plástico, longe de ser um núcleo solitário, pode e deve ser acompanhado por outros copos, dando a medida de suas infinitas possibilidades de construção. Essa diversidade faz parte do espírito da Bienal em diversos níveis. Basta pensar na variedade de seu público, na multiplicidade das propostas artísticas expostas ou mesmo no heterogêneo grupo de co-curadores de diversas procedências, que apóiam o trabalho dos curadores Moacir dos Anjos e Agnaldo Farias: Chus Martinez (Espanha), Fernando Alvim (Angola), Rina Carvajal (Venezuela / Estados Unidos), Sarat Maharaj (África do Sul / Reino Unido) e Yuko Hasegawa (Japão).
Sobre a nova área de Design da Fundação Bienal de São Paulo
A identidade da 29ª Bienal foi desenvolvida pela recém-implementada área de design da Fundação Bienal de São Paulo. Coordenada pelo designer André Stolarski, a equipe composta pelos designers Ana de Carvalho, Felipe Kaizer e Victor Bergmann, e pelos estagiários Fernando Petrich e João Parenti, contou com a estreita colaboração da curadoria, da diretoria, do serviço educativo e da área editorial da Bienal na elaboração dos elementos básicos que configuraram o projeto final. A equipe também será responsável pelo desenvolvimento de catálogo, guia, kits educativos, sinalização e portal da Fundação Bienal de São Paulo, que abrigará o site da 29ª Bienal.
André Stolarski, 40, é designer visual formado pela FAU USP. Foi responsável pelo departamento de design do MAM RJ de 1998 a 2000. Em 2002, associou-se à produtora de design Tecnopop, eleita Empresa de Design dos anos de 2007 e 2009 pelo Prêmio Colunistas. Lecionou na ESDI UERJ e na ESPM RJ de 2006 até 2008. Participou da direção da ADG Brasil entre 2007 e 2009. Como membro do Conselho Editorial da coleção de design da editora Cosac Naify, traduziu os livros Elementos do estilo tipográfico, Pensar com tipos e O ABC da Bauhaus e fez a revisão técnica do clássico História do design gráfico. É autor dos livros Alexandre Wollner e a formação do design moderno no Brasil e Art Breaks: a MTV e a cultura visual contemporânea. Atualmente, faz parte do programa de Mestrado da FAU USP e desenvolve as curadorias da exposição de design gráfico da Bienal Brasileira de Design 2010 em Curitiba e da exposição Alexandre Wollner: cartazes. Possui diversos trabalhos premiados no Brasil e no exterior.
Aninha de Carvalho (designer) é formada em Comunicação Social pela UNIP e está concluindo pós-graduação em Design Gráfico no SENAC SP. Foi produtora editorial da Fundação Bienal de São Paulo entre 2001 e 2008, onde também desenvolveu trabalhos de diagramação e layout. Em 2009 passou a atuar como designer gráfica.
Felipe Kaizer (designer), 26, cursou design na PUC-Rio e nos últimos anos tem se dedicado a trabalhos editorias de médio e grande porte. Trabalhou no Rio de Janeiro, na Tecnopop e também com Jair de Souza. Já desenhou fontes tipográficas para texto de forma amadora. Graduou-se com a monografia intitulada “Design Ex Machina”, sobre a fundamentação política da atividade de projeto, tendo como ponto de partida o pensamento de Hannah Arendt.
Victor Bergmann (designer), 29, é designer digital há 10 anos. Passou por agências e portais que tiveram papeis importantes na história da internet no Brasil. Foi primeiro lugar no III CONE Design, categoria mídias digitais e destaque no NDesign em 2004 e 2005.
Fernando Petrich (estagiário), 23, cursa design gráfico na FAU USP onde também estudou arquitetura. Mantém interesse especial em identidade visual, tipografia e trabalhos editoriais. Estagiou em pequenos escritórios de design e publicidade antes de vir para a Bienal.
João Parenti (estagiário), 24, atualmente termina o curso de design na FAU USP, e nos últimos dois anos tem se dedicado a projetos de identidade visual, editorias e expositivos. Tem grande interesse em desenho, tipografia e fotografia áreas que estuda e pratica constantemente.
* Alice Varajão com material da AI da Fundação Bienal.